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Isaac With a Book

Isaac With a Book

Pequenos prazeres da leitura - Parte 2

A história exclusiva de um livro sem adaptação

03.10.24 | Isaac Barradas

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Devido à imensa curiosidade e ao facto de ter um "calhamaço" a olhar para mim, na estante do escritório, com um olhar que acusadoramente questiona "Não me vais ler?!" cedi à tentação e fiz uma pausa na releitura de "As Crónicas de Gelo e Fogo" para mergulhar em "O Caminho dos Reis", de Brandon Sanderson. Foi durante os primeiros capítulos, e algo influenciado pelas últimas quatro leituras se terem passado num mundo com duas adaptações da HBO e uma terceira a caminho, que me relembrei da diferença que existe entre um livro que foi adaptado ao ao cinema, televisão ou jogos e um que nunca o foi.

Claro que as adaptações têm sempre os seus desafios particulares. De um lado está quem nunca leu o livro nem conhece o enredo e tem o prazer de descobrir, pela primeira vez, aquele mundo e as suas personagens e regras mas estando limitado àquilo que os responsáveis pelas adaptação julgam ser interesante e necessário incluir. No outro lado estão os os leitores, para quem uma adaptação não é mais do que trazer a vida o mundo e as personagens que já conhecem. É a criação de um suporte visual que pode, ou não, corresponder à imagem mental de cada um. Talvez corresponda à ideia específica de um lugar, de um objeto ou de uma pessoa. Talvez seja uma representação fiel do que o autor pretendia quando colocou as palavras no papel. Por outro lado, talvez seja exatamente o oposto daquilo que temos em mente ou até daquilo que está descrito no livro. Seja intencional ou por falta de orçamento, quer parecer-me que esta última opção é a mais comum.

Mas... E quando o livro(s) não foi adaptado?

A verdade é que nos últimos anos não faltam exemplos de adaptações de fantasia. Desde "Senhor dos Aneis - Os Aneis do Poder", "A Guerra dos Tronos", "The Witcher", passando pelas duas temporadas de "A Roda do Tempo" e " A Casa do Dragão", os catálogos de streaming estão repletos de opções. (Calma, eu sei que isto não é um tema atual.) Já em pequeno lia "Uma Aventura" e via a série aos sábados de manhã. Na adolescência passei pelos "Diários de um Vampiro" que ainda hoje passam num qualquer canal juvenil e pelas sagas do "Harry Potter" e de "As Crónicas de Nárnia". Também nessa altura (da minha vida) surgiu a trilogia "O Senhor dos Aneis", que me parece ser das mais fieis ao original. 

Num outro post falarei sobre a minha opinião relativamente às liberdades tomadas nas adaptações. Por agora, voltemos ao tema inicial deste post.

 "O Caminho dos Reis" não tem filmes, séries ou videojogos. É apenas um livro com um tamanho capaz de assustar alguns leitores e que abre as portas para um mundo fascinante em toda a sua complexidade, regras e lugares.

Foi durante os seus primeiros capítulos que me relembrei deste prazer da leitura: Mergulhar numa história sem qualquer referência visual. Sem a cara de um ator associada a determinada personagem, sem banda sonora, figurinos nem lugares criados a computador. Só nós, a nossa imaginação e o livro.

Por um lado é uma tarefa que alguns chamariam de exigente ou até cansativa. Obriga-nos a pensar e nalguns casos até, a parar e reler. É preciso que realmente se entendam as palavras que estão á nossa frente. Não temos um apoio visual a permitir que imaginação se torne perguiçosa. Por outro lado, é uma sensação única que faz com que queiramos ler sem parar. Os lugares vão ganhando forma, lentamente, e vão sendo povoados pelas personagens que imaginamos. As suas vozes e maneirismos vão ganhando expressão e os objetos começam a ter dimensão. Criamos a nossa própria versão do que lemos e esse é sem dúvida um dos maiores prazeres da leitura, o de criar a nossa versão exclusiva da história.

É essa versão que levamos na nossa mente e faz com que uma personagem ou lugar despertem diferentes emoções e sensações.

Pessoalmente estou um pouco dividido entre as duas opções. Claro que, se tiver de escolher, prefiro o livro à adaptação. Já o preferia quando lia Nicholas Sparks, em que não havia construção de mundos nem sistemas de magia complexos, e continuo a preferir, agora que me dedico à fantasia. Contudo, quando o meu défice de atenção está apurado, confesso que me sabe bem ter um suporte visual para me ajudar a focar.

Até já e boas leituras.

Isaac Barradas

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