Sangue e Fogo | A História dos Reis Targaryen
Livros obrigatórios para fãs de fantasia e House of Dragons
Atualmente é difícil falar de "Sangue e Fogo" sem falar de "House of the Dragon". Claro que é compreensível mas não deixa de ser um pouco ingrato para com Goerge R. R. Martin.
Dependendo de com quem se fale, as adaptações ao grande ecrã têm as suas vantagens e desvantagens. Entre as primeiras estará o facto de atrairem novos leitores curiosos para as obras originais. Entre as segundas estará a desilusão que os leitores mais fieis poderão ter ao ver a história e personagens serem alteradas para belprazer dos guionistas e produtores.
Mas, já muito foi dito pela serie. Aqui quero focar-me na minha modesta opinião sobre os livros de Martin.
Duas partes de um volume:
Tal como aconteceu com a publicação dos volumes de "As Crónicas de Gelo e Fogo", em que cada livro original foi dividido em dois, o mesmo se passa com "Sangue E Fogo" e nós, em Portugal, recebemos duas partes do primeiro volume original.
Permitam-me um pequeno "à parte" sobre esta abordagemda editora:
Vejo a decisão da Saída de Emergência como mais do que justificada e a meu ver esta divisão tem pelo menos 3 vantagens: Além de tornar os livros mais fáceis de transportar para quem ainda não se rendeu aos e-books e gosta de uma biblioteca recheada, a divisão também torna a leitura mais gratificante. Estes são livros que poderiam perfeitamente estar entre as melhores obras de história do mundo, não fosse o reino ficcional e os dragões. A narrativa é tão fluída e detalhada que facilmente nos esquecemos que é uma obra de ficção. Torna a leitura tão rápida que se bebem as palavras e se avaliam as ilustrações sempre com a pressa calculada de chegar ao próximo capítulo. Por fim, e esta é uma vantagem para a editora, faz com eles possam ter mais lucro com os direitos de publicação da obra original, com um mercado que tenho a sensação de que se tem vindo a perder "lentamente" para os ecrãs e os seus streamings.
Sobre a leitura e a narrativa:
Para quem já está familiarizado com o mundo de Westeros que chegou até nós com a publicação de "As Crónicas de Gelo e Fogo" é uma leitura mais do que obrigatória. Conhecem-se personagens das quais tinhamos apenas ouvido falar, ficamos a conhecer a história da unificação dos reinos pela dinastia Targaryen e o que tudo isso acarretou para este mundo bem como as suas batalhas pessoais.
Contudo, quem já viu as duas temporadas da série pode estar a questionar-se: "Vale mesmo a pena dedicar-me a esta leitura?". A minha resposta é um sonoro e entusiasmado "Sim!". A narrativa dos livros começa muito antes dos tempos retratados na série, com o Aegon, o Conquistador e as suas irmãs e avança até muito depois da guerra dos verdes contra os negros. (Confesso que aqui estou a especular um pouco, já que o segundo livro termina pouco depois do rescaldo da guerra chamada " A Dança dos Dragões".)
Quanto à narrativa em si, ela descreve-nos uma história grandiosa que nos apresenta personagens suficientemente distintos para que possamos odiar uns e amar outros. Ao longo da já conhecida tradição de casamentos incestuosos dos Targaryen, acompanhamos a ascenção e queda de reis crueis e sádicos e de outros sábios, ponderados e firmes. Conhecemos a sua linhagem e os objetivos por detrás das ligações entre casas. Lemos sobre o nascimento de dragões grandiosos e sobre morte de outros. Seguimos batalhas épicas que deram origem a guerreiros lendários onde outros pereceram. Ocasionalmente achamos que uma princesa ou princípe poderia necessitar de um pouco mais de disciplina e descernimento. Ficamos a conhecer os lordes de Westeros que foram suficientemente audazes para desafiar os montadores de dragões e os que cobardemente se submeteram às suas leis e regras.
É nesta narrativa organizada em forma de relato histórico que avançamos e recuamos nos eventos. Tudo graças aos apontamentos pessoais de meisters, septões, bobos e outros intervenientes ao longo do tempo.
Para mim, esta é a chave do sucesso desta história. George R. R. Martin apresenta-nos a casa Targaryen num épico relato histórico que tal como disse no ínicio, poderia perfeitamente estar entre as melhores obras de história do mundo, não fosse o reino ficcional e os dragões.
Pontos negativos:
O que mais me desgostou na tradução portuguesa é o facto de os nomes dos lugares terem sido também traduzidos. Sei que nem todos os leitores estarão familiarizados com os nomes originais e que talvez por isso tenham sido traduzidos. O meu problema com isto é que a rega não é clara. King's Landing passou a ser Porto Real, o que não me parece mal, mas Winterfell continou a ser Winterfell. Sunspear passou para Lançasolar e Dragon Stone para Pedra do Dragão. O mesmo se passa com os nomes dos Dragões. Balerion continua a ser Balerion mas Dreamfyre passou a ser Fogonírico. A casa Hightower continua a ser Hightower ma se falarmos do lugar já se chama Torralta.
Confesso que não sei qual é a regra que o tradutor segue e não estou, de modo nenhum, a críticar um trabalho que desconheço. Contudo, estando habituado aos nomes originais e que foram perpétuados pelas séries de TV, demorei um pouco a chegar às conclusões e associações que poderia chegar mais cedo se os nomes fossem os originais.
Pode parecer um preciosismo e provavelmente é-o. Contudo, opiniões são apenas isso: opiniões.
Em suma, estes são dois livros que recomendaria sem sobra de dúvida, quer para fãs da série que queiram redescobrir o mesmo mundo com novos olhos ou para os leitores mais fieis de Martin ou de fantasia no geral.
Até já e boas leituras.
Isaac Barradas